Troya D’Souza
Membro da Academia Literária
Padrinho:
Francisco de Assis Bento de Souza, nasceu em Santa Cruz, RN, aos 26 de abril de 1978. Filho de Gabriel Cândido Rodrigues e Tereza Lúcia Pereira de Souza, ambos agricultores.
Em sua cidade natal residiu por vinte anos. Estudou nas escolas estaduais José Bezerra Cavalcante e Izabel Oscarlina Marques. Não concluiu os estudos e em 1998 mudou-se para Natal/RN, em busca de um novo rumo para a sua vida.
Na capital onde residiu por mais de vinte anos ingressou na área da construção civil, onde atua até hoje como construtor.
Em 2010 voltou a estudar, frequentando as escolas estaduais Dr. Manoel Dantas e Mascarenhas Homem, ambas em Natal, despertando um sonho que havera deixado adormecido no passado, sua grande paixão pela poesia.
Através das redes sociais ganhou destaque no âmbito cultural, adotando o codinome de Troya D’Souza.
O poeta desde então tem trabalhado com afinco, em prol da cultura como um todo e caminhando a passos largos pelas fantásticas veredas da literatura de cordel.
Atualmente o poeta é casado, tem seis filhos e reside na cidade de Parnamirim, RN, vizinho a Natal e cerca de 118 Km da sua cidade, Santa Cruz.
Poema Biografia
Me chamo Troya, o poeta
Sou filho de Santa Cruz
Venho da chama e da luz
Assim tracei minha meta
Versejo na linha reta
Sou formado pela roça
Sou matuto da mão grossa
Minha caneta é a enxada
Meu caviar é qualhada
E meu bangalô a palhoça.
Eu nasci nessa cidade
E no passado fui embora
O presente me trouxe agora
Pra um futuro sem saudade
Aqui eu fico a vontade
Lembrando das travessuras
Quão jovem fiz mil loucuras
Fui doce, amargo e traquino
Tudo eu fiz quando menino
Na inocência mais pura.
Hoje passando os quarenta
Tenho trinta de repente
Desde cedo no batente
Sou cascavel, saramanta
Sou ribanceira que espanta
Coqueiro, tamiarana
Juazeiro, jitirana
Eu sou capão sou capote
Sou água fria do pote
Lampião e cajarana.
Sou Camarão, sou Cascudo
Sou Teodorico, Burica
Maracujá, Vila Rica
Xarel, peixinho, veludo
Selo, texto, conteúdo
Sou trova de Riachão
Sou Aderaldo, Cancão
Dona Bia, curandeira
Militana, romanceira
Sou Crisanto e sou Gastão.
Eu sou a voz do vem vem
Sou assovio de mocó
Baioneta caritó
Sou pardal, pinto, xerém
Sou fulorzinha também
Sou o nordestino forte
A religião o suporte
Nutrindo a fé do romeiro
O peregrino estradeiro
Do Juazeiro do Norte.
Sou Pipa, Genipabu
Areia Branca, Natal
Mossoró, Umarizal
Sou Redinha, Cunhaú
Ponta Negra, Muriú
Eu sou Parelhas, Sargi
Sou Extremoz, Pirangí
Eu sou a Praia do Forte
Eu sou Caiçara do Norte
Jacumã e Pitanguí.
Sou Trairí, sou Agreste
Mandacaru, barbatão
Sou Vitalino, Azulão
O Santo Arco Celeste
Eu sou o cabra da peste
Otacílio, Catingueira
Sou Fabião, Zé Limeira
Louro Branco sondoroso
Vila Nova, Zé Cardoso
Sou Romano do Teixeira.
Sou as coisas do sertão
As belezas do Nordeste
Caatinga, que reveste
A coruja, o gavião
Sou landuá, matulão
A viola e seu temores
O baião seus cantadores
Sou a casaca de couro
João de barro, besouro
E o Pajeú das Flores.
Troya D’souza
Patrono
Fabião das Queimadas
Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha, o poeta dos vaqueiros. Nasceu escravo na Fazenda do Coronel Zé Ferreira. Município de Santa Cruz-RN, nos idos de 1848. Começou a cantar por volta dos 10 anos, durante os trabalhos na roça. Era tocador de rabeca. Adquiriu seu instrumento aos 15 anos, com dinheiro do trabalho na roça. Começou a cantar na região, com a permissão e o incentivo de seu dono. Cantando nas casas\ de ricos, conseguiu comprar sua alforria, e também alforriar sua mãe e sua sobrinha, com quem haveria se casado e tido 15 filhos. Analfabeto, compôs diversas cancões e romances dentre eles o “Romance do boi da mão de pau”, com 48 estrofes. Que foi registrado por Luís da Câmara Cascudo em seu livro “Vaqueiros e cantadores”. Em 1999, por ocasião dos 400 anos da cidade de Natal, foi recriado por Ariano Suassuna e por Antônio Nóbrega e pela primeira vez gravado no CD “Nação potiguar”. Suas composições apresentam traços dos romances herdados da idade média.
Um poeta renomado na sua região, tornou-se bastante conhecido na capital através do Dr. Eloy de Souza. Importante divulgador da obra de Fabião das Queimadas, Eloy de Souza era irmão de Henrique Castriciano e Auta de Souza. Politico, jornalista e escritor.
Fabião morreu em 1928. aos 80 anos de idade. Vitma de um tétano. Estar sepultado na cidade de Barcelona, RN. Onde o poeta residiu por muitos anos.
Romance do Boi da Mão de Pau
Vou puxar pelo juízo
Para saber-se quem sou
Prumode saber-se dum caso
Tal qual ele se passou
Que é o boi liso vermelho
O Mão de Pau corredor
Desde em cima, no sertão
Até dentro da capitá
Do norte até o sul
Do mundo todo em gerá
Em adjunto de gente
Só se fala em Mão de Pau
Pois sendo eu um boi manso
Logrei a fama de brabo
Dava alguma corridinha
Por me ver aperiado
Com chocalho no pescoço
E além disto algemado…
Foi-se espalhando a notícia
Mão de Pau é valentão
tendo eu enchocalhado
Com as algemas nas mão
Mas nada posso dizer
Que preso não tem razão
Sei que não tenho razão
Mas sempre quero falá
Porque alé d’eu estar preso
Querem me assassinar…
Vossa mercês não ignorem
A defesa é naturá
Veio cavalos de fama
Pra correr ao Mão de Pau
Todos ficaram comido
De espora e bacalhau…
Desde eu bezerro novo
Que tenho meu gênio mau
Na serra de Joana Gomes
Fui eu nascido e criado
Vi-me morrer lá pro Salgado
Daí em vante os vaqueiro
Me trouveram atropelado…
Me traquejaram na sombra
Traquejavam na comida
Me traquejavam nos campo
Traquejavam na bebida
Só Deus terá dó de mim
Triste é a minha vida
Tudo quanto foi vaqueiro
Tudo me aperriou
Abaido de Deus eu tinha
Fabião a meu favor
Meu nego, chicota os bicho
Aqueles pabuladô
Pegaram a me aperiar
Fazendo brabo estrupiço
Fabião na casa dele
Esmiuçando por isso
Mode no fim da batalha
Pude fazê o serviço
Tando eu numa maiada
Numa hora d’amei-dia
Que quando me vi chegá
Três vaqueiro de enxurria
Onde seu José Joaquim
Este me vinha na guia
Chegou-me ali de repente
O cavalo Ouro Preto
E num instante pegou-me
Num lugá até estreito
Se os outro tiveram fama
Deles não vi proveito
Ali fui enchocalhado
Com as algemas na mão
Butado por Chico Luca
E o Raimundo Girão
E o Joaquim Siliveste
Mandado por meu patrão
Aí eu me levantei
Saí até choteando
Porque eu tava peiado
Eles ficaram mangando
Quando foi daí a pouco
Andava tudo aboiando…
Me caçaram toda a tarde
E não me puderam achar
Quando foi ao pôr-do-sol
Pegaram a se consultar
Na chegada de casa
Que história iam contar
Quando foi no outro dia
Se ajuntaram muita gente
— Só pra dar desprezo ao dono
Vamos beber aguardente
Pegaram a se consultar
Uns atrás, outro agüente
Procurei meu pasto veio
A serra de Joana Gome
Não venho mais no Salgado
Nem que eu morra de fome
Pru que lá aperriou-me
Tudo o que foi de home
Prefiro morrer de sede
Não venho mais no Salgado
No tempo que tive lá
Vivi muito aperriado
Eu não era criminoso
Porém saí algemado
Me caçaram muito tempo
Ficaram desenganado
E eu agora de-meu
Lá na serra descansado
Acabo de muito tempo
Vi-me muito agoniado
Quando foi com quatro mês
Um droga dum caçadô
Andando lá pulos matos
Lá na serra me avistou
Correu depressa pra casa
Dando parte a meu sinhô
Foi dizê a meu sinhô
— Eu vi Mão de Pau na serra
Daí em diante os vaqueiro
Pegaro a mi fazê guerra
Eu não sei que hei de fazê
Para vivê nesta terra
Veio logo o Vasconcelos
No cavalo Zabelinha
Veio disposto a pegar-me
Pra ver a fama qu’eu tinha
Mas não deu pra eu buli
Na panela das meizinha
Sei que tô enchocalhado
Com as argema na mão
Mas esses cavalo mago
Enfio dez num cordão
Mato cem duma carreira
Deixo estirado no chão
Quando foi no outro dia
Veio Antônio Serafim
Meu sinhô Chico Rodrigue
Isto tudo contra mim
Vinha mais muito vaqueiro
Só pro mode dá-me fim
Também vinha nesse dia
Sinhô Raimundo Xexéu
Este passava por mim
Nem me tirava o chapéu
Estava correndo à toa
Deixei-o indo aos boléus
Foram pro mato dizendo
O Mão de Pau vai a peia
Se ocuparo neste dia
Só em comê mé-de-abeia
Chegaro em casa de tarde
Vinham de barriga cheia
Neste dia lá no mato
Ao tirá duma “amarela”
Ajuntaram-se eles todo
Quase que brigam mor-dela
Ficaram todos breados
Oios, pestana e capela
Quem vinhé a mim percure
Um cavalo com sustança
Ind’eu correndo oito dia
As canela não me cansa
Só temo a cavalo gordo
E vaqueiro de fiança
Eu temia ao Cubiçado
De Antônio Serafim
Pra minha felicidade
Este morreu, levou fim
Fiquei temendo o Castanho
Do sinhô José Joaquim
Mas peço ao José Joaquim
Se ele vier no Castanho
Vigi não faça remô
Qu’eu pra corrê não me acanho
Nem quero atrás de mim
De fora vaqueiro estranho
Logo obraram muito mal
Em correr pro Trairi
Buscar vaqueiro de fora
Pra comigo divirti
Tendo eu mais arreceio
Dos cabras do Potengi
Veio Antônio Rodrigues
Veio Antônio Serafim
Miguel e Gino Viana
Tudo isto contra mim
Ajuntou-se a tropa toda
Na casa do José Joaquim
Meu sinhô Chico Rodrigues
É quem mais me aperriava
Além de vir muita gente
Inda mais gente ajuntava
Vinha em cavalos bons
Só pra vê se me pegava
Vinha dois cavalos de fama
Gato Preto e o Macaco
E os donos em cima deles
Papulando no meu resto
Tive pena não nos vê
Numa ponta de carrasco
Ao sinhô Francisco Dias
Vaqueiro do coroné
Jurou-me muito pega-me
No seu cavalo Baé
Porém que temia a morte
S’alembrava da muié
Vaqueiro do Potengi
De lá inda veio um
Um bicho escavacadô
Chamado José Pinun
Vinha pra me comê vivo
Porém vortô em jijum
Veio até do Olho d’Água
Um tal Antônio Mateu
Num cavalo bom que tinha
Também pra corrê a eu
Cuide de sua famia
Vá se recomendá a Deus
Veio até sinhô Sabino
Lá da Maiada Redonda
É bicho que fala grosso
Quando grita, a serra estronda
Conheça que o Mão de Pau
Com careta não se assombra
Dois fio de Januaro
Bernardo e Maximiano
Correram atrás de mim
Mas tirei-os do engano
Veja lá que Mão de Pau
Pra corrê é boi tirano
Bernardo por sê mais moço
Era mais impertinente
Foi quem mais me perseguiu
Mas enganei-o sempre
Quem vier ao Mão de Pau
Se não morrer, cai doente
Cabra que vier a mim
Traga a vida na garupa
Se não eu faço com ele
O que fiz com Chico Luca
Enquanto ele fô vivo
Nunca mais a boi insulta
Sinhô Antônio Rodrigue
Mas seu Gino Viana
Vocês tão em terra aleia
Apois vigie como anda
Se não souberam dançá
Não se metessem no samba
Vaqueiro do Trairi
Diz. Aqui não dá recado
Se ele dé argum dia santo
Todos ele são tirado
Deix’isso pr’Antonho Ansermo
Que este corre aprumado
Quando vi Antonho Anselmo
No cavalo Maravia
Fui tratando de corrê
Mas sabendo que morria
Saiu de casa disposto
Se despidiu da famia
Vou embora desta terra
Pru que conheci vaqueiro
E vou de muda pros Brejo
Mode dá carne aos brejeiro
Do meu dono bem contente
Que embolsou bom dinheiro
Adeus, lagoa dos Veio
E lagoa do Jucá
E serra da Joana Gome
E riacho do Juá
Adeus, até outro dia
Nunca mais virei por cá
Adeus, cacimba do Salgado
E poço do Caldeirão
Adeus, lagoa da Peda
E serra do Boqueirão
Diga adeus que vai embora
O boi d’argema na mão
Já morreu, já se acabou
Está fechada a questão
Foi s’embora desta terra
O dito boi valentão
Pra corrê só Mão de Pau
Pra verso só Fabião!
Fabião das Queimadas
5 comentários on “Cadeira 33: Troya D’Souza”
Grande poeta, Deus esteja te dando forças para enfrentar a vida a partir de agora. Sabe-se que essa dor até ameniza mas não se apaga.
Não decidimos sobre os propósitos Divinos, mas creia que Deus está com você e sua família.
Abraços meu irmão, Deus te abençoe.
Querido Troya imensurável a dor que sentes mas preciso dizer que como irmã da poesia estou aqui.Sua dor também é minha dor.Tenho imenso amor pelas crianças e só peço a Deus para te dar forças para seguir em frente.Deus abençoe a você e aos seus familiares.
Olá nobre poeta, estou passando aqui para deixar meus sentimentos de pesares e te dizer que Deus está contigo nesse momento tão difícil é saiba que só ele tem o poder de nós chamar quando ele quisermos do seu lado, portanto ele chamou a Heloísa porque ele a queria do seu lado, Deus sabe tudo poeta .
Olá querido poeta !
Venho através dessas linhas , desejar paz e conforto da parte de Deus e do nosso Senhor Jesus Cristo! Cremos que seu anjinho está no mais lindo e belo lugar ao qual não podemos explicar quão grande é a beleza de lá! Jesus nos afirmou que o Reino de Deus é das crianças, pois elas são puras , não peçam, porque não tem ainda discernimento entre o bem e o mal. Deus te abençoe e te conforte!
Graça e Paz ao teu coração nobre poeta!
Você é nosso amigo e irmão nessa família poética!
Receba você e toda sua família um forte abraço deste que escreve.
Gemilson Dantas
Um poeta do sertão!!!
Ola meu amigo poeta ….
Tudo se faz é se refaz
Na linha da vida somos
Capaz…de sonhar.
Abraço amigo